Nas últimas eleições, durante o acirramento dos embates entre a situação e a oposição, com a habitual troca de acusações e agressões, a campanha do prefeito usou como diferencial a imagem de uma nova era de paz e prosperidade que se instalaria em Caruaru, que teria por arauto o prefeito e a sua gestão. Sendo o principal símbolo desse novo momento que alteraria dramaticamente a realidade local a instalação de grandes empresas, tais como: Shacman, Pampers, Cemil e até cogitou-se a Nestlé.
Passado o processo eleitoral o que antes era certeza, claro como o dia, passou a estar envolvido em forte nevoeiro, e o que era para já, foi adiado para talvez em 2016, justamente durante a próxima campanha eleitoral municipal; se todas as condições exigidas pela fábrica foram atendidas pelo governo municipal e principalmente pelo estadual e quando a situação econômica mundial for propícia.
Embora vozes na oposição já acusem o prefeito de estelionato eleitoral, prometendo o que não podia entregar, diante da dubiedade das informações da Shacman, há de se entender que as multinacionais muitas vezes aproveitando-se da guerra fiscal existente entre os Estados brasileiros, anunciam e assinam protocolos de intenção em cerimônias públicas pomposas, para depois leiloaram entre os demais Estados e municípios da federação a sua localização. Arrancando com isso dos governos vultosos financiamentos, obras estruturadoras, capital de giro e isenções de impostos a longo prazo; vide o caso da instalação das montadoras no Rio Grande do Sul. Para quando se esgotarem esses incentivos automaticamente leiloarem mais uma vez a sua instalação procurando outra localidade para vampirizar.
A possível desistência da Shacman abre espaço para a realização de um amplo debate a respeito da relação custo/benefício com a sua instalação. Quanto custará aos cofres municipais e estaduais atender as exigências dessa empresa? De quanto será o impacto da renúncia fiscal com as isenções concedidas? Quantos empregos diretos e indiretos a empresa gerará? Vale a pena? Afinal não podemos agir de maneira provinciana e deslumbrada, como se a Shacman e demais empresas do mesmo porte fossem a redenção da economia local, colocando todas as nossas esperanças em agentes econômicos externos que não possuem nenhuma ligação com a sociedade local.
Isso não significa que iremos criar barreiras e impedir a instalação dessas empresas, mas a vinda delas para Caruaru tem que ser produtiva para ambos os envolvidos, cidade e empresa. Não podemos ficar com o ônus e essas empresas usufruírem do bônus, temos que dialogar com esses atores buscando reter aquilo que for bom para a comunidade.
O que não pode ocorrer é, ao privilegiar esses grandes agentes econômicos, sejam no setor de serviços, indústrias ou comércio, abrirmos mão do fortalecimento da economia local. De realmente buscarmos o desenvolvimento em bases locais sustentáveis, algo que existe latente na economia caruaruense, mas que não recebeu devida atenção dos setores público e privado. Se os recursos que seriam investidos para atrais a Shacman e as demais empresas fossem investidos seriamente na ampliação e aperfeiçoamento da produção e do comércio local, sabendo que ao contrário desses grandes grupos, o lucro obtido seria totalmente reinvestido aqui ao invés de ser remetido para uma matriz distante e financiando o desenvolvimento em outras cidades e até mesmo países.
Uma grande fábrica ou uma rede de loja, embora seja automaticamente associada ao desenvolvimento e ao crescimento econômico da região, na realidade estrangula o comércio e a produção local com práticas predatórias e até mesmo em alguns casos desleais. Várias dessas empresas, das mais diversas áreas, nos últimos anos, vêm se instalando em Caruaru, em virtude da pujança econômica do Polo de Confecções e do papel da cidade como centro regional de serviços para os municípios circunvizinhos, alterando em longo prazo, as nossas bases econômicas e o nosso futuro.
Se a Shacman não chegar, não será o fim do mundo, mas pode ser o momento de aproveitarmos para discutir a sério o desenvolvimento local em Caruaru, articulando os diversos segmentos sociais, e buscando realmente a sustentabilidade local e não miragens, ou promessas, de crescimento econômico vagas e vazias.
*Mário Benning é analista político e professor no IFPE